Tragédias existem desde que o mundo foi criado. O universo nasceu do caos, que um dia, num tempo muitíssimo distante, ganhou forma e vida.
De lá para cá, muitos seres iluminados, com as mais diversas denominações, vêm trazendo as lições necessárias de acordo com a capacidade de compreensão de cada época. Jesus, o mais evoluído de todos, ensinou o caminho para a verdade e para a vida através do amor, apesar de nossas imperfeições.
Escolheu seus discípulos nas praias, na coletoria de impostos, pelas ruas do mundo. Seu convite, muito amoroso, era sempre o mesmo: “Vem e segue-me”... “vem e vos farei pescadores de homens!”.
No poço de Jacó, ao encontrar-se com a mulher samaritana, ainda que a soubesse em falta, lhe oferece a água da vida, que sacia a sede por toda a eternidade. Ao moço rico, incapaz de se desapegar de seus bens materiais e de suas opiniões pré-concebidas, somente lhe dirige o olhar com certa compaixão.
Procurado por Maria de Magdala, convida-a a reformar-se e ser a mãe desvelada e dedicada dos órfãos e necessitados, papel que exerce até o fim de seus dias, no vale dos leprosos. Ao ser indagado pelo doutor da lei sobre o que fazer para herdar o reino dos céus, prega o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. E para dizer quem é o próximo narra a parábola do bom samaritano.
Nesses momentos de sofrimento, de perplexidade e de profunda dor que estamos vivendo, Jesus mais uma vez nos convida à prática do amor e do bem, a estender a mão aos mais necessitados, a levar esperança e luz onde houver desespero e dor. É preciso compreender os sinais e atender ao chamado que nos pede respeito ao planeta, ajuda aos desamparados e reforma interior. O que afeta um, tem que afetar todos.
Esta é a melhor maneira de vencer todas as dificuldades e de melhor cumprir a missão. Agora e depois.
Novas façanhas
O Rio Grande do Sul não será mais o mesmo, depois que toda a água baixar. As enchentes inundaram também a história de um povo “aguerrido e bravo”. Muita coisa veio à tona, boa e ruim. Não faltarão imagens e registros de heroísmo, como também de maledicência e oportunismo.
Por ora, é indispensável manter o foco nas prioridades: salvar vidas, encontrar desaparecidos, curar feridos, acolher desabrigados, alimentar os que não tem o que comer, sem descuidar da proteção contra os assaltos, saques e ameaças de toda forma. A normalidade está distante, mas a solidariedade precisa continuar muito presente. Mais do que nunca, que “sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra”!
Educação e conscientização pública
Conversei essa semana com André Panciera, formado em Engenharia Ambiental e Sanitária pela Universidade Franciscana (UFN), com doutorado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em Engenharia Agrícola, Dinâmica de Água no Solo e presidente do Comitê da Bacia do Rio Quaraí.
O ponto de partida é o cumprimento da lei n° 10.350, de 1994, e do Plano de Bacia Hidrográfica. Além disso, é necessário melhorar o gerenciamento de águas pluviais, a manutenção e a drenagem urbana, a preservação de áreas de amortecimento ecológico, o controle do uso e acompanhamento da erosão do solo, e dar uma especial atenção ao que chamou de “educação e conscientização pública”.
Exemplos marcantes
É interessante lembrar alguns problemas históricos, que acabaram sendo bem resolvidos. O Rio Tâmisa, na Inglaterra, condenado em 1874 por sua alta poluição, foi recuperado. O Senna, centro da vida dos parisienses, na França, levou mais de cem anos para ser despoluído.
O rio que banha Chicago, nos Estados Unidos, e o Rio Cheonggyecheon, em Seul, Coreia do Sul, que possui o maior parque horizontal urbano do planeta, são alguns exemplos de rios que foram transformados pela ação e respeito do homem ao meio ambiente.
A solidariedade atravessa pontes
O bem e o mal têm sido marcas destas semanas de enchente que estamos vivendo. Enquanto alguns se ocupam com a disseminação de fake news e com a crítica destrutiva, outros, em muito maior número, esquecem ideologias, divergências, tiram de onde tem e de onde não tem, saem da zona de conforto e arriscam a própria vida para ajudar o semelhante.
Não importa o tamanho ou a repercussão do bem praticado, mas, antes, sua intenção. Na cabeceira rompida da ponte do Rio Soturno, pessoas atravessam uma frágil pinguela para levar alimentos, leite e fraldas para crianças da periferia de Nova Palma. Organizar e agilizar a distribuição das doações recebidas é outra tarefa importante.
Tema obrigatório
Gestão das águas urbanas, melhoria do sistema de drenagem, instalação de bacias de detenção e canais de sustentabilidade, preservação dos pontos de amortecimento hidrológico, proteção de áreas de risco e implementação de projetos habitacionais em locais mais seguros, deverão ganhar grande destaque nos planos de governo dos candidatos aos cargos eletivos deste ano.
O solo, como bem lembrou o engenheiro ambiental André Panciera, é um grande reservatório de água. O lixo que não recebe o recolhimento adequado e entope as bocas de lobo é um risco permanente de alagamentos. Juntando-se a isso o fato de que Santa Maria tem mais de 300 nascentes é fácil imaginar o quanto o assunto precisa ser melhor tratado.
A vida continua, nesta e em outras dimensões!